sexta-feira, 9 de dezembro de 2011

Contos reflexivos

Autor: Alberto Grimm[1]
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Depois de enriquecer como dono de uma fórmula mágica capaz de acabar de vez com a calvície, aquele cientista, que passou a enfrentar sérios problemas por não ter mais onde guardar tanto dinheiro, resolveu reunir a imprensa para tornar público seu grande segredo.

“Observando o coco, a fruta, percebi como ela era peluda. Aí foi fácil isolar o gen responsável por criar cabelo em uma quenga de coco, depois foi só aplicar o princípio à genética humana, e o resto da história todos já sabem!”.

Todos se entreolharam pasmos, como era possível algo tão simples ser a solução de um dos maiores dilemas da vaidade humana. Mas a bomba maior ainda estava por vir, pois naquela ocasião, ele, o grande inventor, faria outra revelação, esta capaz de resolver quase todos os problemas da humanidade. E em meio à agitação que acabara por se formar diante do exposto, ele pede silêncio, e calmamente acrescenta:


“Senhores, acabo de descobrir a célula tronco de todos os vegetais existentes em nosso planeta. Isso significa simplesmente, que podemos a partir de agora, transformar qualquer vegetal em outro vegetal. Por exemplo, podemos transformar um grão de arroz, em milho, e assim por diante. E mais, podemos transformar capim em árvores frutíferas etc. Usem então a vossa imaginação, para sentirem o poder dessa descoberta! E mais, logo faremos a mesma coisa com os minerais!”

A coisa era maior do que suas palavras podiam expressar naquele momento. Os alimentos agora podiam ter sabores, qualquer sabor, ou sabores mistos, ou cores, ou cheiros, ou as vitaminas desejadas. Assim, agora era possível produzir feijões do tamanho de abóboras, dotadas naturalmente de complexos vitamínicos, e com sabores variados. Isso resolvia de vez a questão da fome e dos combustíveis bio-renováveis, uma vez que um gramado de tamanho médio, podia se transformar num imenso canavial, de canas com caules da grossura de um Baobá[2]. Seguindo esse princípio, mesmo o lodo dos esgotos ou terrenos úmidos, podia ser convertido em imensas plantações de qualquer coisa, e mesmo de arroz, com grãos do tamanho de melancias gigantes, vitaminados, imunes à todas as pragas, resistentes ao calor e frio, a seca, etc.

E mais importante, ele estava disposto a abrir mão da patente, torná-la pública, genérica, para que todos pudessem se beneficiar da mesma. Mas, antes de tornar público sua descoberta, para testar a viabilidade de projeto de tal magnitude, em mãos dos cidadãos comuns, ele patrocinaria uma comunidade, onde simularia a aplicação da técnica, e mesmo os resultados; uma espécie de piloto de provas. E dentre os integrantes, ter-se-ia representantes de todas as classes sociais, credos, preferências, manias; um micro-cosmo da humanidade. Se a coisa funcionasse ali, funcionaria no resto do mundo, em qualquer parte.

Como todos queriam participar do projeto, logo, antes de tudo, um grande caos teria que ser resolvido. As instituições políticas, grupos religiosos, grupos étnicos, grupos sem grupo, contestadores, como sempre, queriam lugar de destaque, privilégios proporcionais ao tamanho de sua presença social. E os contrários às mudanças transgênicas, também logo reclamaram do seu espaço, argumentando que precisavam ver de perto os efeitos daquela coisa. É claro que se houvesse entendimento, teria lugar para todo mundo.

O problema maior era então a reivindicação de privilégios, cotas diferenciadas, situações mais favoráveis para uns, afinal, hierarquia e status social, deveria ser levado em conta. Criaram-se novas leis para organizar a coisa, revogaram-se outras, anularam-se outras tantas, e logo o projeto teve início, ao menos o processo de seleção dos candidatos. Passaram-se então muitos anos, desde o anúncio da coisa, até o fim das discussões reivindicatórias, e quando tudo parecia resolvido, descobre-se que o cientista, detentor único da fórmula mágica, já não mais existia. Sendo excêntrico, não costumava anotar em lugar algum suas descobertas, e tudo se perdera.

Ao que alguém no meio da multidão lamenta: “Parece que a resolução de um problema não é a coisa que se busca, mas antes disso, a multiplicação desse mesmo problema”.

Moral da história: Quem está realmente com fome não pergunta de onde veio a comida.


 
01-A espera


A sensação não era nada boa. Fazia muito frio, e ele, sem compreender bem o que estava acontecendo, caminhava por uma trilha de terra em meio à densa mata fechada, de onde, sequer podia enxergar a luz do sol, se é que naquele lugar existia tal coisa. Estava meio confuso, meio não, completamente. Sequer conseguia pensar de forma ordenada. Sua mente não conseguia se fixar em ponto algum, e suas lembranças mais pareciam um amontoado de coisas pelo avesso. Em resumo, dentro de sua cabeça, nada fazia sentido.

Tentou lembrar como chegara naquele lugar e nada, nadinha, nem adiantava tentar. Como seria possível alguém chegar a algum lugar sem ter lembrança de como lá chegara? Será que ele morrera, que aquela era a sensação de alguém morto? Olhou para seu corpo em busca de respostas, e percebeu que vestia um agasalho para frio, e assim deduziu que havia se preparado para estar ali. A questão era, onde?


Olhou para trás e via apenas uma longa trilha, estreita, sinuosa, aparentemente sem fim, uma visão semelhante a que tinha à sua frente. Dos lados, árvores, de todas as cores e alturas, e um silêncio que o fizera concluir, ou que podia estar com problemas de audição, ou que ali não existiam sons. A coisa aparentemente era bastante séria, pois sequer conseguia lembrar do próprio nome; do lugar onde morava, nem pensar. Era como se estivesse vazio, oco, sem mente.

Então começou a escutar um barulho de vozes, como se um grupo de pessoas se aproximasse de onde ele se encontrava. Assustou-se e logo pensou em correr, mas estava com um problema, pois não conseguia distinguir de que lado vinha aquele murmúrio, de modo que, ir em qualquer das duas direções, indo ou voltando, era arriscado. Num ímpeto de coragem, decidiu correr para frente, sem olhar para trás, e para aumentar sua aflição, as vozes se aproximavam cada vez mais dele. E em meio às vozes atrás de si, ele escutou pronunciarem um nome, que até poderia ser o seu, se soubesse qual era. E alguém lhe diz: “Fulano, não adianta se apressar, aqui tem o que você procura!”.

Por isso mesmo, quase morre de susto, quando alguém tocou nas suas costas, dizendo: “Está na hora...”. O grito que saiu de sua garganta, resultado do imenso pavor que sentiu, era de fato estranho. Não foi um grito que saiu de imediato, mas uma espécie de grito gradual, isto é, que ia aumentando de volume aos poucos, como se obedecesse ao girar do botão de volume de um rádio, cuja engrenagem estivesse falha.

Acordou tentando se segurar em alguma coisa, como se estivesse caindo de uma cama, da qual de repente lhe tirassem o lastro. Segurou num pé, isso mesmo, num pé descalço, de alguém que dormia ao seu lado, juntamente com mais uma centena de outras pessoas, naquilo que parecia uma imensa fila de espera.

A principio ainda estava desorientado, sem saber onde estava, sem saber onde ficava o norte ou o sul. Parecia ter perdido o juízo, e sua mente, mais se assemelhava a um sistema operacional de computador contaminado com um vírus, que o tornava demasiado lento. Mas, quando a mesma voz que o acordou, tornou a falar, sua razão começou a voltar para casa. Dizia ela: “As portas já vão ser abertas...”.

Lembrou então que estava, juntamente com uma centena de outras pessoas, numa imensa fila de compradores compulsivos, à espera do grande lançamento, de um grande e revolucionário produto, uma novidade, que viciados em consumo, como ele, faziam questão de ter em primeira mão. Tratava-se de um novo aparelho eletrônico, um celular, cujo diferencial era não possuir botões, funcionava por comando de voz, e apenas seu dono poderia operá-lo. Nada que o tornasse superior aos modelos anteriores, não fosse o exclusivo recurso de mostrar aos seus usuários, em tempo real, em gráficos coloridos, diversos modelos deles disponíveis, a temperatura do centro da Terra.

Sem compreender muito bem porque precisava daquele aparelho, o fato é que ele estava naquela fila. Também, subitamente, como se seu cérebro iniciasse um processo de auto-limpeza, onde coisas sem explicações não teriam mais espaço para ficar, não compreendia por que precisava saber da temperatura do núcleo da Terra 24 horas por dia, em tempo real; que utilidade aquilo teria para si. Percebeu que, pela primeira vez em sua vida, estava pensando, questionando alguma coisa. Lembrou que isso talvez fosse um reflexo daquele sonho “diferente” que tivera.



E muitos outros pensamentos questionadores, estranhos para ele, uma vez que se acostumara desde pequeno a simplesmente seguir a onda da vez, invadiam sua mente, como se fossem os antigos moradores, há muito despejados, mas que agora, tomados de uma nova motivação, reivindicassem sua antiga morada. Não era uma sensação ruim, mas antes disso, estranhamente motivadora. Lembrou das campanhas de consumo anteriores, nas quais fora envolvido, levado a consumir sem pensar, sem questionar se de fato eram necessidades, ou simples compulsão sem motivo.


Lembrou dos tantos aparelhos, todos ainda funcionando bem, que já possuía em casa, que eram substituídos quase como uma obrigação, a cada nova campanha, apesar de, agora percebia, não haver motivo coerente, lógico para isso. Ficou assustado com aquele percebimento, e pela primeira vez sentiu que sempre fora um autômato movido pela vontade alheia. Sentiu um misto de revolta e um tanto de liberdade, pois sabia que, a partir daquele ponto, não mais conseguiria ser um “boneco movido pela corda alheia”. A sensação era que acordara de um longo e perturbador sono, em todos os sentidos.

Achou graça ao observar seus amigos, ali ao seu redor, naquela imensa fila de espera, onde passaram a madrugada, a troco de nada, discutindo tolices como os benefícios de se possuir um celular que, além de fazer aquilo que todos os demais já faziam, era capaz de mostrar em tempo real, a temperatura do núcleo da Terra. Saindo dali, depois se reuniriam, como das outras vezes, cada um tentando configurar seu aparelho, com um padrão diferenciado, embora fossem todos iguais. Depois iriam para suas casas, e lá permaneceriam, diligentes, em estado de espera, até a próxima campanha, o próximo comando, a ordem de como deveriam agir. E depois, pensou, quem poderia garantir se aqueles números seriam de fato da temperatura do centro do planeta, afinal de contas, quem iria lá, com um termômetro, para conferir?

De fato, estava pensando, sentia uma liberdade estranha, não por ser esquisita a sensação, mas porque sentia uma segurança, uma confiança em si, que nunca experimentara antes. E sem dizer nada, já que nenhum dos demais tinham ouvidos ou olhos para outra coisa, se afastou sem ser notado, sem explicar nada a ninguém. Estava, pela primeira vez em sua vida, consciente de uma ação sua.

Autor: Alberto Grimm


02-O bobo da corte
Tipo: Quebra-gelo e Dinâmicas / Autor: Pr. Geremias S. Araújo


Há uma antiga história a respeito de um rei, que, de acordo com os costumes da época, tinha o seu bobo da corte. Estes bobos da corte tinham o direito de dizer a verdade aos reis e príncipes, mesmo que fosse amarga. Se ela era amarga demais, simplesmente dizia-se: "Ele é apenas um bobo!"

Um dia o rei deu ao bobo um cetro prateado com sininhos dourados na ponta e disse: "Com certeza você é o maior bobo que existe. Se um dia você encontrar um que será mais bobo que você, então lhe dê este cetro."

O bobo carregou o cetro por muitos anos - até o dia em que recebeu a notícia de que o rei estava para morrer. Ele correu até o quarto do doente e disse: "Meu rei, ouvi dizer que você pretende fazer uma grande viagem!"

"Não pretendo, mas preciso", respondeu o rei.

"Oh, você precisa? Então há um poder que está acima dos grandes da terra. Bem, mas com certeza você voltará logo" "Não", gemeu o rei, "não se volta da terra para a qual eu vou."

O bobo tentou consolá-lo: "Com certeza você preparou esta viagem há muito tempo. Imagino que você tenha tomado todas as providências para ser regiamente recebido nesta terra de onde ninguém volta."

O rei abanou a cabeça: "Eu me esqueci disto. Nunca tive tempo de preparar esta viagem."

Então com certeza você não sabia que um dia teria de fazer esta viagem".

Saber, eu sabia. Mas, como o disse, não houve tempo para me ocupar com uma boa preparação.

Então o bobo colocou lentamente o cetro sobre a cama do rei e disse:

"Você me ordenou que desse este cetro àquele que fosse mais tolo que eu. Rei tome o cetro! Você sabia que teria que entrar na eternidade e que de lá não se volta. E mesmo assim não se preocupou em fazer com que as moradas eternas lhe estivessem abertas. Rei, você é o maior tolo!"

A Bíblia diz no Salmo 14:1: Os tolos pensam assim: Deus não existe, e por isso não pensam nem por um momento na eternidade e naquilo que vem apôs a morte. Mas fazem de tudo para obter algo nesta vida. Investem para isto todo o seu tempo, força e dinheiro, mas ainda assim o título de sua vida é: são tolos. Podem até conseguir tudo o que for possível neste mundo, mas erram o alvo, pois em Lucas 9:25 está escrito Que vantagem terá alguém em ganhar o mundo inteiro, se ele mesmo se perder ou se for destruído?

Prepare-se para a eternidade. Talvez você pergunte como fazer isto, como também lemos em Atos 16:30-31: (...) Senhores, o que eu devo fazer para me salvar? Eles responderam: Creia no Senhor Jesus e você será salvo - você e sua família.

Crer em Jesus Cristo e viver com Ele, esta é a resposta e o caminho para se preparar para a eternidade, para poder entrar no céu e para libertar-se de uma vida de engano. Pois em João 14:6 Jesus diz: Eu sou o caminho, a verdade e a vida, ninguém vem ao Pai senão por mim. Por isto, não viva mais sem Ele, pois aquele que se decide pela verdade não é tolo.

Digo a você que já está na igreja prepare-se! esteja com tua lâmpada acesa quando Jesus voltar! Há muitos que estão dentro das igrejas, mas não estão preparados paraa morte ou a vinda de Jesus. Estar na igreja não significa estar em comunhão com Cristo, na presença de Deus, em obediência à sua Palavra!

Desperte do sono da imprudência, do pecado e da falta de vigilância! Acorde! A vida não é um ensaio! ela é única! aproveite -a bem e corretamente. Vivemos num mundo onde todos dão muito valor ao dinheiro, fama, poder, corpo, a uma vida mais saudável, seja na alimentação como no modo de vida. Mas quantos estão se preparando espiritualmente para a vinda de Cristo?

Cuide de seu espírito, e prepare para ele estar em forma quando chegar a hora da passagem deste universo para um outro além das estrelas. Não esteja despreparado, como muitos que se encontram hoje em dia, como se Jesus nunca viesse buscar os seus, mas pronto a qualquer hora e dia para um encontro com Deus.

(texto Adaptado - AD).

03-A estória dos sapinhos….
Tipo: Quebra-gelo e Dinâmicas / Autor: Pr. Geremias S. Araújo

Era uma vez um grupo de sapinhos que organizaram uma competição.
O objetivo era alcançar o topo de uma torre muito alta.
Uma multidão se juntou em volta da torre para ver a corrida e animar os competidores...
A corrida começou...
Sinceramente:
Ninguém naquela multidão toda realmente acreditava que sapinhos tão pequenos pudessem chegar ao topo da torre.
Eles diziam coisas como:
"Oh, é dificil demais!! Eles nunca vão chegar ao topo."
ou:
"Eles não tem nenhuma chance de sucederem. A torre é muito alta!"
Os sapinhos começaram a cair. Um por um...
... Só algums poucos continuaram a subir mais e mais alto...
A multidão continuava a gritar
"É muito difícil!!! Ninguém vai conseguir!"

Outros sapinhos se cansaram e desistiram...
...Mas UM continuou a subir, e a subir...
Este não desistia!
No final, todos os sapinhos tinham desistido de subir a torre. Com exceção do sapinho que, depois de um grande esforço, foi o único a atingir o topo!
Naturalmente, todos os outros sapinhos queriam saber como ele conseguiu?
Um dos sapinhos perguntou ao campeão como ele conseguiu forças para atingir o objetivo?
E o resultado foi…
Que o sapinho campeão era SURDO!!!!
(autor desconhecido )


04-A Fórmula da Necessidade

E um cientista, o maior matemático de todos os tempos, depois de muitos cálculos e pesquisas, chegou à conclusão, e agora era capaz de provar através de fórmulas matemáticas, que o ser humano precisaria de certos “itens”, e estes poderiam ser objetos, idéias ou coisas abstratas, que seriam imprescindíveis ao seu viver. Era uma questão de necessidade, e agora era oficial, cientifico, e a fórmula provava isso. Isso significava dizer que, se a fórmula provasse, o indivíduo não mais poderia viver sem aquela referida coisa.

Assim, por ser capaz de provar suas conclusões, ele desenvolveu um método, uma técnica infalível para avaliar se alguma coisa existente, objeto, palavra, crença ou qualquer outra, era ou não necessária, vital, ao ser humano. Era algo como ser capaz de traçar o perfil de potencial de venda de qualquer produto existente, recém lançado, ou por lançar, no mercado de consumo. Com a aplicação do tal método e comprovação através de sua fórmula, ele poderia afirmar se aquele produto, seria ou não de uso obrigatório pela sociedade, o que induziria o ser humano a comprá-lo, no caso de um produto, e a segui-la, no caso de uma idéia, mesmo sem saber o motivo pelo qual o estaria fazendo.


“Não adianta”, disse ele, “A fórmula e todo roteiro para a aplicação da técnica, está em minha cabeça, e apenas lá. Nem uma linhazinha do processo foi documentada em papel, ou qualquer outro meio onde se possa escrever. Não tornarei de uso público, é perigoso, será para sempre um segredo só meu. Mas, para alguns, poderei calcular se seus produtos são, ou se tornarão ou não de uso obrigatório, e ainda poderei dizer o que falta no produto, para que ele se enquadre como de “necessidade vital”. E tudo, é claro, pago, muito bem pago, afinal de contas, a fórmula já atestou que o uso dela mesma é uma necessidade vital”.

Foi um alvoroço, um rebuliço sem precedentes no mundo acadêmico e da pesquisa científica, e logo foram organizados seminários e conferências para explicar a coisa ao resto do mundo. Era sem dúvida uma novidade, pois a partir de agora, através de fórmulas científicas, estava comprovado que o ser humano, de qualquer parte do planeta, não importasse crença, raça, nacionalidade, nível social, não poderia sobreviver sem algumas “coisas” que aquele método era capaz de identificar com clareza. Ora, isso sempre fora o sonho de qualquer campanha de publicidade, dos governos, de todos os tipos de interesses, por isso se tornou uma questão de segurança mundial.

E todos queriam saber se seus produtos “passavam”, eram aprovados, pela fórmula. Sendo aprovado pela fórmula, um objeto, uma ideia, ou qualquer outra coisa, era a certeza atestada de sucesso, afinal de contas, cientificamente, ela provava que o ser humano “não poderia viver sem aquele item aprovado”.

E antes de entrar no mercado como uma “espécie de selo de qualidade”, o selo mais desejado do mundo, que apenas alguns felizardos poderiam estampar em suas marcas, criou-se um órgão regulamentador oficial para fiscalizar. Ideias ou produtos não autenticados pela fórmula, mas que usassem o selo sem autorização, seriam sumariamente retirados de circulação e seus responsáveis punidos com o exílio perpétuo nas montanhas negras do Himalaia. Isso porque, depois de autenticado pela fórmula, as pessoas, não mais poderiam viver sem aquela coisa, e criar “falsas dependências”, se constituía um crime sem direito à fiança. Mas ficou combinado que alguns vícios seriam liberados.

E o primeiro produto aprovado pela fórmula, como de necessidade indispensável à existência humana, foi um pequeno aparelho eletrônico, na verdade uma versão móvel de telefone. E logo todos se perguntavam: “Nossa! Como foi que conseguimos viver até hoje sem isso, como era possível?”. Depois vieram os livros, alguns títulos, que, segundo a fórmula, todos precisavam ler, na verdade, não mais poderiam viver se não os lessem. E como as crianças pequenas ainda não eram capazes de ler e entender o que estavam lendo, seus pais e educadores se encarregariam de lhes passar o conceito por trás das páginas. Depois vieram as ideias e modo de pensar que todos deveriam adotar como norma de vida, e assim por diante.

E uma criança implica com sua mãe: “Mãe, eu não aceito que o Universo foi criado por uma explosão chamada Ping Pong, nem que o mesmo é quadrado e redondo nas pontas!”. E sua mãe tentando convencê-lo: “Mas filho, está comprovado pela fórmula, precisamos pensar assim, você precisa aceitar essa verdade, essa informação é indispensável à nossa vida!”. “Para mim não é; não preciso disso para nada. Não há quem me faça mudar de ideia!”. E sua mãe resolve a questão: “Está bem, você aceita a ideia e eu compro aquela bicicleta azul que você pediu!”. Feliz da vida ele concorda: “Aquela aprovada pela fórmula, que tem o selim com som MP3 polifônico?”.

Em outro lugar do mundo, cultura diferente, outra criança pergunta à sua mãe: “Mãe, porque nós precisamos de aparelhos celulares com máquina de Raios-X, e com ferro de passar roupa embutidos, e máquina de lavar roupa com acesso à internet e GPS, e computadores com telas de 60 polegadas, se a maior parte dessas coisas quando não atrapalham não serve para nada?”. E sua mãe disse: “Ora filho, aparentemente não serve, mas é uma necessidade sem a qual não conseguiríamos viver, está provado pela fórmula que deve ser assim...”, e ninguém mais tocaria naquele assunto.

E desde aqueles tempos, qualquer coisa que fosse atestada pela fórmula como de necessidade vital à humanidade, seria consagrado como uma lei, um quesito que se tornaria parte integrante daquele homem. Palavras, frases e ideias que as pessoas deveriam repetir como parte de suas personalidades, tudo isso passaria pela aprovação da fórmula. E então aconteceu aquilo que ninguém esperava. A fórmula atestou, provou que os homens, na verdade, não eram homens, apenas ainda não haviam se cientificado do fato, mas agora que a fórmula atestara, todos deveriam cumprir seus destinos. Não se tratava de uma escolha, a fórmula atestara que os homens eram na verdade, Ratos urbanos, da espécie Gabirus Erectus.

Assim, desde então, nos tornamos Ratos urbanos, vivendo em imensas cidades degradadas, com uma diferença, agora conscientes disso. E finalmente, antigos adágios tomaram seu devido lugar. Dizemos agora “Degrade sua cidade e viva feliz”, ao invés do antigo: “Cuide e conserve da sua cidade e viva feliz”.

Vivíamos felizes até os dias de hoje, quando nos chega a notícia de que outro cientista, um cientista Rato é claro, acaba de compilar uma nova fórmula, um novo teorema, que prova que nós Ratos, somos na verdade humanos não conscientes. Eu que não caio mais nessas histórias, especialmente nessas ideias mirabolantes criadas por Ratos cientistas. Imagine, dizer que nós somos humanos, e ainda querer provar através de fórmulas de que isso é verdade!


Autor: Alberto Grimm
Fonte: sitededicas.uol.com.br

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