terça-feira, 8 de novembro de 2011

Vamos ensinar com o coração!!!

Ensinar com o coração…
… Para o coração aprender

A escola pretende ensinar o domínio da ciência e do saber no intuito de preparar uma geração competente que impulsione o desenvolvimento sócio-económico e cultural da sociedade. Para tal organiza os conteúdos dos programas de ensino no sentido da rentabilização dos anos escolares, pretendendo fornecer a maior quantidade de conhecimentos no menor espaço de tempo possível. A pedagogia de hoje alerta para o facto de que ensinar nem sempre é equivalente a aprender, isto é, aquilo que se pensa ter ensinado, nem sempre foi aprendido e de facto, só é ensinado o que tiver sido aprendido. Desenvolveram-se assim metodologias facilitadoras da aprendizagem, que serão tanto mais eficazes quanto forem centradas no aluno. No entanto, os níveis de insucesso escolar continuam elevados e nem sempre se conseguem atingir os objectivos. Apontam-se razões que se prendem com a falta de cooperação família-escola, com a ineficácia da educação parental, tantas vezes deficiente quando não ausente e com a decadência social dos valores. Serão razões válidas sem dúvida, se a existência lhes der a validade. Válidas mas não suficientes.
Fomos feitos á imagem de Deus, com a mesma capacidade e necessidade de amar que O levou a criar-nos. Criados para a relação, as pessoas precisam de expressar e de sentir amor. Essa é a necessidade que está na base de todos os problemas humanos. Para receber amor, conformam-se, mesmo que isso signifique limitarem-se no direito de serem quem são, de expressarem a sua verdadeira identidade. Os seus sentimentos são assim camuflados, enterrados e eles ficam limitados na sua autonomia.
Para ensinar com o coração é necessário que o professor entre em contacto consigo próprio, com os seus sentimentos mais profundos. Só assim poderá facilitar isso ao outro pelo respeito e pelo amor incondicional.
Jesus foi o exemplo perfeito de professor que ensina com o coração. Ele nunca se escondeu de si próprio e nunca se negou ao outro. Podemos vê-lo a sós, em meditação e oração. Ele conheceu intensa luta espiritual e emocional, e nem o facto de saber quem era, o fez evitá-las. Enfrentou e venceu. Também nós teremos de enfrentar as nossas lutas se queremos crescer.
Jesus abriu a sua vida e partilhou com os discípulos mais do que a teoria teológica confinada pelo farisaísmo a um conjunto de regras de fazer e não fazer, a sua própria forma de viver. Confrontou as práticas com os princípios e chamou pelos nomes as atitudes egoístas, hipócritas e arrogantes. Ensinou o respeito pelo outro, fosse que outro fosse, a abnegação, a compaixão e a bondade pelo exercício, no dia a dia, na relação com os que com eles se cruzavam e entrecruzavam. Foram lições de vida. Da Sua vida. Ensinadas com paixão, convicção e dedicação. É isso que hoje somos chamados a fazer.
Na escola de hoje encontramos crianças e adolescentes mutilados no interior. Encontramo-los nos corredores da violência, nos pátios do isolamento e nas salas da indiferença. Nada parece poder tocá-los de forma significativa e não sabem expressar outra coisa senão aquela incrível rebeldia. A Dra.Isabelle Filliozatt afirma quanto á violência que “não está nem directamente ligada á injustiça, nem á ofensa, nem á frustração, mas á impotência para gerir os afectos face a situações difíceis, para exprimir necessidades e receber satisfação” A violência é um grito de impotência, tentando chamar a atenção dos adultos para o desespero que sentem.
Mas também, estes adultos têm o seu próprio desespero. E a resposta á sua impotência é expressa na necessidade de exercer poder sobre os outros. Neste caso, as alunos. “A necessidade de exercer poder sobre os outros é tanto mais importante quanto maior é a impotência interior” È essa falta de segurança interior, esse medo de não ser aceite, de não ser amado, não corresponder ás expectativas, parecer idiota que faz educandos e educadores gemerem atrás das suas defesas, encurralados pelos seus próprios sentimentos. Privam-se mutuamente do bem da relação, porque todos crescemos quando partilhamos. Partilhar não significa fazer confidencias mas abrir o seu mundo interior e deixar que o outro conheça os seus sentimentos. E afinal, todos têm sentimentos. Mesmo que estejam camuflados. O educador cristão também. Pode ter sido tão maltratado como os outros, ou ainda mais e tem certamente as suas dúvidas e temores interiores. Também sente a ansiedade da adaptação às novas situações, o medo de não ser aceite ou bem sucedido. Mas tem uma mais valia. A sua relação com Deus. Aí aprende a desenvolver segurança interior.
Mas não acontecerá como que por magia. Há todo um trabalho interior a desenvolver. Em primeiro lugar ele precisa tomar consciência de si mesmo. Encetar uma viagem ao seu interior e contactar
com os seus próprios sentimentos, conhecer os cantos e recantos escondidos de si que o fazem ser quem é. Descobrir o que sente a seu próprio respeito. Para estar numa relação construtiva com os outros é necessário aprender a desenvolvê-la com nós próprios. É necessário estar congruente. È autoconsciência e auto-aceitação. È ser autêntico. Sem fachadas. “Se não permitirmos que os outros entrem no nosso coração afastamo-nos deles.” Falar de nós, dos nossos sentimentos e das nossas vivências, é sempre enriquecedor para os outros. E pode transformar a vida do nosso interlocutor. Porque todos somos humanos e podemos identificar-nos com os sentimentos e emoções que o outro expressa, a partilha afectiva é enriquecedora para todos. As crianças e os jovens estão desejosos de trocas emocionais. Precisam de alguém que os ouça, que lhes mostre como é SER pessoa e que os valorize como tal.
Só se pode dar aquilo que se recebeu, podemos argumentar. Mas será isso inteiramente verdade? Quantas vezes o facto de termos sofrido pela falta ou perda de algo significativo nos leva a tentar evitar ou minorar o sofrimento de outrém nas mesmas circunstâncias? È por isso que muitos pais marcados pela falta económica tentam dar aos filhos uma vida melhor. Será que isso se coloca apenas em termos materiais? Não poderemos nós quebrar o ciclo da recusa emocional pelo nosso acto generoso de dar? Afinal dar, é também receber. Às vezes acontece em simultâneo, outras vezes não. Dar traz-nos satisfação e nunca é demasiado. Dar-se significa dar de si e é a forma mais profunda de dar. Transmite consideração, estima e valor ao outro como pessoa. Dar-se requer disponibilidade interior para aceitar, escutar e amar o outro, de forma personalizada. È aqui que o educador cristão pode SER a diferença. Porque tem as chaves para abrir o seu próprio coração, a motivação certa para estar na relação (que não é catequizar!) e a capacidade de amar e logo, entender o outro.
Quais são as condições que o aluno enfrenta? Ele precisa ser ouvido. “Enquanto os seus sentimentos não forem ouvidos uma pessoa que sofre continuará a gritá-los através de comportamentos desadequados.”
Segundo Rogers as condições necessárias e suficientes para que ocorra uma aprendizagem significativa incluem, da parte do professor, além da congruência que já citámos, uma atitude de consideração incondicional positiva. Isto é, uma “calorosa preocupação – uma preocupação que não é possessiva, que não exige qualquer favor pessoal”. Também significa aceitar o aluno como é e como se sente, sem críticas nem julgamentos, permitindo-lhe experimentar e expressar livremente os seus sentimentos e descobrir os significado das suas experiências. Cria-se assim um clima de segurança e consideração que facilita uma aprendizagem significativa. Duas das suas necessidades afectivas fundamentais estão supridas: sente-se existir e sente-se aceite.
Outra condição apontada por Rogers é uma atitude de compreensão empática. Significa ver o mundo particular do outro como se fosse o seu próprio, sentir os sentimentos dele como se fossem os seus, sem no entanto deixar os seus próprios quadros de referencia e sentimentos. Empatia consiste na capacidade de nos colocarmos no lugar do outro, procurando compreendê-lo. Isso pressupõe uma boa capacidade de escuta, bem como uma capacidade de desfocarmos da nossa pessoa. É estar na relação sem jogos de poder para conseguirmos o que queremos, numa posição vertical de autoridade, no encontro horizontal de dois seres humanos que partilham e se compreendem. É ouvir atento. De forma a compreender além do que é verbalizado, os sentimentos que estão presentes. Mostrar-se empático é sentir, sem julgar.
O educador cristão é inevitavelmente objecto de estudo do aluno. Pode ser um “livro de cabeceira” daqueles a que se recorre frequentemente pelo prazer e utilidade que nele se encontram, ou um “livro de prateleira” de que pouco mais se conhece além da capa. É uma escolha individual.

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