domingo, 27 de maio de 2012



“(E) Lembra-te do teu Criador nos dias da tua mocidade, antes que venham os maus dias, e cheguem os anos dos quais dirás: Não tenho neles prazer”... Ecl. 12.1-8

  
O livro de Eclesiastes descreve a transitoriedade da vida. É visto na perspectiva humano-divino, isto é, o comportamento do ser humano enquanto ser biológico e social em todas as fases da sua vida terrena, concluindo o ciclo da vida como sendo “vaidade”.
É provável que o livro tenha sido escrito por Salomão, ou para outros autores, um outro filho de Davi, chamado Qohelet; não sendo Qohelet, é possível que ele tenha assumido a personificação de Salomão quando escreveu entre 300 e 250 a.C.
De acordo com o conteúdo da carta, Salomão escreveu este capítulo após reflexões quanto a sua vida pregressa: suas ações, reações, atos, comportamentos, onde os tais o fizeram refletir acerca da importância e valor da vida.

O nível de comprometimento espiritual dos leitores da época era o mesmo dos tempos do reinado de Saul e Davi: instabilidade espiritual, apostasia, reinos divididos, falta de padrão moral... O objetivo primário do autor era despertar o público leitor para os cuidados quanto às ações da vida, senão, vejamos as sessões parenéticas: “Lembra-te; e vaidade de vaidade”. Ele retrata uma emocionante “Alegoria à Velhice”, onde os comentaristas entendem que a perícope(sessão) pretende descrever a progressiva debilidade e decadência do homem na velhice. A sessão pode ser observada também a partir de dois pontos de vista: o homem na velhice experimentando um momento de dissabor; ou vivendo uma rica oportunidade para relembrar e reviver os bons tempos, se eles foram bem aproveitados na fase jovem. Certo é que algumas frases descrevem numa linguagem eufemista,  a perda da força em órgãos específicos do corpo.  

O verso 1 do capítulo 12 tem conexão com o cap. 11: 9 e 10 (ler os versos). A expressão no original é que após o autor estimular o jovem a aproveitar a juventude e observá-la, ele conclui usando o conectivo: “E, lembra-te do teu Criador” – o jovem não deveria apenas procurar o seu bem-estar mas, principalmente Aquele que o criou. Combinam-se a aptidão e a obrigação. Retrata a fragilidade crescente do homem numa série de quadros.
Alguns comentaristas dizem que a expressão “maus dias” se retrata à velhice, sem que haja uma linha de pensamento constante”.
A fase adulta faz enxergar com realismo os problemas da existência humana, que afetam o ser como um todo e o ambiente em que ele vive. Na velhice, este ser experimenta com algumas implicações sua fase de transição.
A expressão “não tenho neles prazer” retrata o dissabor, a falta de vigor, de motivação, de projetos e até de sonhos.   

Verso 2 -  A figura do sol, vista como literal, esclarece que o sol está se pondo, a noite vem, onde as ações do idoso se tornam mais difíceis, principalmente para enxergar. Na figura do V.T. é visto como antes que apague o brilho do rosto ou da testa.
No todo o sentido seria “o mundo prossegue na escuridão, porque mesmo depois da chuva, não é o sol, mas as nuvens que vão surgir”, ou seja, a mudança do clima é comparada à sua mudança, pode aparecer o sol, mas em seguida ele se vai, vem as nuvens carregadas, que se manifestam em aguaceiros.

Verso 3 – O quadro revela, agora, sintomas da velhice. Os guardas da casa sugerem a falta de capacidade do velho se proteger de ameaças externas, ou referindo-se a fraqueza em seus braços. Os homens de força parecem referir-se às pernas, que em outra passagem relacionam-se com força. As moedoras são os dentes que caem na velhice; os olhos dos que olham pela janela identificam os olhos que escurecem-se na idade avançada.

Verso 4 – Depois dos olhos e da boca, procedemos para o ouvido e a repugnância do velho com qualquer som que perturbe seu descanso. Quando se fecha a porta da rua e o barulho do moinho baixa (...) e as filhas do cantar enfraquecem, alude a sua fraca audição, porém, o velho, em seu descanso, acorda ao cantar do pássaro, pois tem o sono tão leve que até mesmo o pipilar dos passarinhos o despertará. Mesmo com a audição prejudicada é plausível que o quadro se refira ao despertar erraticamente, de madrugada.

Verso 5 – O velho tem medo de altura e de viagens. A amendoeira que floresce diz respeito ao cabelo que se torna cinzento, e depois prateado. O gafanhoto andar se arrastando refere-se ao caminhar difícil e até incerto dos anciãos. A alcaparra estalar indica a falta de apetite ou de paladar na velhice; a alcaparra aparentemente era um estimulante dos apetites físicos, talvez até afrodisíaco, possivelmente referindo-se à falta de interesse sexual dos idosos. E finalmente, a explicação do porque dessa decadência sistêmica: o homem já está a caminho de sua morada eterna, assim a morte é o clímax de um processo que se inicia na vida, no nascimento. No final do verso, os que pranteiam vagueiam pela rua, enfatizando a tristeza de todos os homens que está, inevitavelmente, ligada ao mesmo processo até a morte.

Verso 6 – Num sentido mais claro, seria dizer que os três objetos: copo, jarro e roda estão amarrados em uma única corda, e ao se romper, os três se quebram simultaneamente.

Verso 7 – A estrutura paralela da passagem inteira torna possível assumir que a alegoria que se inicia com uma exortação “lembra-te do teu Criador”, termina com o retorno do espírito do homem a Deus “que o deu”. Aqui, o autor não pode negar que a vida vem de Deus e a Ele pertence, portanto, a Ele retornará.

Verso 8 – O fenômeno da morte é o exemplo supremo de reino terrenal, aquilo com que o autor começou.

Podemos entender então o porquê da expressão “lembra-te”. Seria mais ou menos dizer: faça tudo o que estiver ao seu alcance como ser biológico, relacional e social; aproveite todas as oportunidades que lhe forem apresentadas, avalie-as diante de Deus e desfrute-as; não deixe o ócio fazer parte do seu plano de vida; mas lembre-se que todas estas coisas só lhe acontecem porque há um Ser que está monitorando a sua existência. Lembrar-se dele significa:

ü  Que você e eu temos um compromisso relacional com Ele como Senhor, Pai e Amigo;
ü  Que Ele nos assiste em todo o tempo, e por isso, as minhas ações devem estar submetidas ao Seu governo;
ü  Confiar na Sua soberania e viver na Sua dependência, certos de que o Seu caminho é o melhor.
ü  Servi-lo com tal intensidade e com prazer, que ao enfrentar as mudanças da fase biológica, viva-as sem remorso ou sentimento de culpa por não ter executado o que deveria ser na época em que a oportunidade esteve em suas mãos.

Ser jovem, exercitando essa qualidade de vida espiritual é o que conclui o pregador: Teme a Deus e guarda os seus mandamentos; porque isto é o dever de todo o homem, porque Deus há de trazer a juízo todas as obras, até as que estão escondidas, quer sejam boas, quer sejam más. 


Suely Zacarias Pinto
Bacharel em Direito; Bacharel em Teologia( curso livre); Mestranda em teologia no Novo Testamento; Profa. do Seminário do Betel Brasileiro, na área de Hermenêutica e Vida Cristã; Secretária do Programa de Pós Graduação do Sem. Do Betel Brasileiro; Palestrante de Família

Um comentário:

  1. Texto maravilhoso!!! Vale a pena lê-lo...
    Agradeço a Missionária Suely. Deus a abençoe!!

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